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Pela primeira vez numa viagem, diversas pessoas que eu trombei me perguntaram porque eu estava viajando. Pensando agora, muitas pessoas me perguntaram porque eu ia viajar in the first place também. Eu acho que o “normal” seria dizer, – to de férias. Mas na verdade eu não tenho férias, eu tenho trabalhos – no plural mesmo – que me permitem escolher data e tempo de “férias”.
Eu não tinha exatamente uma resposta, e cada vez eu falava uma coisa: que eu queria conhecer o Equador, que eu tinha pesquisado e visto que é um país interessante etc… A verdade é que no caso do Equador eu queria ir para um lugar que eu não soubesse muita coisa. Que nenhum amigo próximo tivesse ido e que pudesse me dar dicas suficientes para eu já saber exatamente como ia ser meu roteiro.
Been there… done that
Hoje é difícil ter uma aventura sem saber exatamente como vai ser, tem Lonely Planet, tem sites, blogs, tem instagram. Algum mochileiro já foi onde você está indo, e já escreveu, tirou foto e avaliou o pico e as coisas que tem para fazer nele. No primeiro dia de hostel da viagem (depois do couchsurf), eu ouvi a galera interagindo na cozinha do que eles tinham feito no dia. Like, didn’t like, not worth it, it’s great … aquilo me incomodou demais. Como nós viajantes fazemos julgamentos de valor! 🙁 Corri para o quarto e decidi não sair mais. Eu não queria me tornar essa pessoa, mas sabia que é assim que a gente age quando estrangeiro, comparando e julgando conforme nosso parâmetro, desrespeitando todas as nuances e cores do desconhecido.
– Where – the hell
Caramba, mas não é para isso que a gente viaja? Abraçar novas culturas? Novos lugares? Nos colocar no lugar vulnerável do: não faço idéia do que é isso… é pra comer?
As coisas não deviam se resumir ao que você gostou ou não gostou, não pode ser que tudo seja tão preto no branco assim. Aqui no Brasil eu já estava pensando nessa relação turística. No meu ver, é também este tipo de turismo, que numa larga escala, se torna predatório. É este tipo de turismo que não liga para o meio ambiente (em todas as suas definições) e só quer dar um check √ numa lista de “lugares supostamente imperdíveis”. Por isso que eu decidi pensar numa viagem, intercalando o rolê com uns trampos de voluntária. Mas esse é outro post.
Então afinal para mim, por que viajar é preciso?
De todos os motivos que eu geralmente tenho pra fazer uma viagem:
- Repensar a vida com distância;
- Sair do cotidiano para voltar com gás (ou sair fora de uma vez de uma situação que não tá 100%;
- Pequenos perrengues do dia-a-dia away que te colocam nesse lugar do desconforto, e que por consequência te adicionam mais uma pele de couro…
Nenhuma conseguia realmente descrever qual era minha real vontade. Eu não sabia o que eu estava fazendo! Eu cheguei a falar pra uma destas pessoas que me perguntou antes de ir:
– Eu não sei o que eu estou buscando com essa trip. Só sei que o que quer que seja, não tá aqui…
Talvez seja isso que tenha me atraído: o fato de ter a liberdade de dessa vez não ter uma “desculpa”. No final a gente SEMPRE encontra o que estava buscando sem saber o que procura. Nessa trip eu fiz muitos amigos de verdade, eu REALMENTE viajei sozinha, me doei de voluntaria, na base da troca, e pude pensar neste tipo de relação. Eu – gosto de pensar – que empoderei uma mulher latina, que outras vidas em outros lugares são completamente possíveis. Passei um dos piores momentos da minha vida. Eu me apaixonei. Eu me apaixonei por eu mesma de novo e de novo. E consegui segurar uma linha de carretel e puxar e descobrir depois que era o meu propósito de vida (ou um deles).
Destas coisas e “coincidências” da vida, assim que eu cheguei queria ver um filme com paisagens e tal. Assisti “Given”, tá maravilha, tá no Netflix. No blog do filme tinha esta citação:
“ Is there anything more rewarding that driving down an unknown road and finding what you didn’t know you were looking for?”
♡♡♡ Can i get an amen ♡♡♡
Dois sonzinhos de DEUS que eu escutei MUITO nessa viagem (altamente viciantes):