Tá me dando uns cinco minutos/ Merde d’aniversaire

Entramos no labirinto com alguns segundos de diferença. Era um ambiente calmo, com uma luz lilás baixa e um som tranquilo.

Por um momento naquele ambiente escuro, sozinha pelos corredores, desejei ficar ali pra sempre e me perder em mim. Não ter que fazer 32 anos, não ter que me a ver com o fato de querer ter uma família para mim, mas achar que isto está pelo menos a 5 anos de distância, que talvez não seja aqui na alemanha, e que talvez então isso queira dizer que não seja com o Jonas. De achar que no momento a vida é curta demais para aprender e estudar alemão. Do medo de ficar neste lugar onde todos sejam como eu vi na Bavaria: fominhas individualistas e rei na barriga. Me perder de todo meu passado, de todas as pessoas que eu já me desentendi e não consegui reparar. De toda a expectativa que eu tinha para mim (sem perceber, pois não fazer planos é também um plano) a dez anos atrás, e que realizei a um tempo que era irreal, muito protegida de escorregões da vida. De que eu sempre me guardei, como se fosse alguma coisa importante, ou para alguma data mais especial, e agora com 32 saber que esta data é hoje, e foi ontem, e talvez já tenha passado. Que eu já tenha ficado para trás.

Mas eu não estava no meu labirinto infinito de impossibilidades, estava num parque  de diversões dos anos 70 na Alemanha. E me perseguindo tinha uma garota vestida com um traje típico, e ela tinha dito que queria fechar a casa maluca, mas eu suspeito que ela estava nos perseguindo pelo meu acidente na roda de madeira, quando assim como o Jonas, tentei fazer uma parada de mão, mas meu corpo torceu, meu braço fraco não aguentou e eu caí de cabeça no chão pateticamente sendo arremessada de ombro pra fora da roda de madeira.

Será que eu to velha pra tentar esse tipo de coisa? Preciso aceitar que vou ser sedentária e medrosa daqui pra frente?  Será que eu paro de tentar salvar este dia?

Jonas fez e disse tenta! Ele disse que era difícil mas eu perguntei se ele achava que havia uma chance de eu cair. Ele disse não . Será que eu devia ter ficado brava com ele? Isso não importa. Essa menina ta me pressionando e eu preciso achar a saída. Chego no final da sala e vejo o sinal de saída. Olho para trás e vejo o jonas, ainda estou chorando por causa do tombo, mas o gatilho mesmo foi quando o Jonas soltou o metal de segurança do chapéu mexicano e o troço caiu na minha cabeça, ou por causa da nossa treta que já se arrasta há dois dias, e teve início justamente por causa do meu aniversário. Aquilo sim doeu. Mas nada disso importa, eu achei a saída. Andei pra frente com toda a convicção. Dei de cara – boca – dente nessa ordem com o vidro. Mais um acesso de choro. A menina me pegou pelo braço e começou a tentar me guiar, mas ela estava errando o caminho, acho que ficou nervosa porque não sabia o que fazer, o jonas ficou sem saber o que dizer, e eu nao queria mais olhar para ninguém… Pedi que ela fosse na frente e eu a seguisse então. Ela ofereceu mais uma vez uma saída de emergência, mas eu sou insistente, ou idiota, e quis continuar, pois havia visto um escorregador. Será que eu não sei parar? Saímos e eu não conseguia nem falar. Entramos no shuttle completamente lotado e fiquei bem no cantinho da porta, virada para fora. 20 min tentando respirar pois o choro não dava pausa. Jonas encostava em mim tentava me acalentar mas eu continuava achando que não era esforço bastante.

Quando chegamos na estação a porta abriu e prendeu meu pé entre a parede do ônibus. Uma mulher com um bebê me ajudou e tudo que eu conseguia pensar era no esforço que eu teria que fazer para dar um sorriso e agradecer a ajuda.

Viemos para casa e finalmente parei de chorar…mas eu sabia que tinha que enfrentar o meu whatsapp. Eu não queria contar para as pessoas sobre o meu dia. Mas tinha decidido que ia mentir e foi o que fiz.

Entrei no banho e sai rapidamente. O Jonas abriu o prosecco que eu não quis tomar de manhã e fez um cigarro. Combinamos que íamos comemorar mais um dia, que não este nefasto. Ele falou “sorry” pelo seu aniversário e eu disse que nao era culpa dele, mas no fundo foi por causa da nossa relação que tudo isso veio a tona, então eu pensei que culpa é uma palavra nada a ver. O Jonas ficou bravo pq eu esperava muito. Não sei se ele não fez muito justamente por causa disso. Mas eu achei que ele podia ter me dado um aniversário mais memorável por ser o meu primeiro agora que vim morar aqui. Se é que eu vou realmente morar aqui. Meu pai me ligou. Jonas saiu pra comprar coisas que eu pedi pra cozinhar. Mas no meio das reclamações do meu pai sobre a falta de trabalho e a situação do Brasil, desci pra falar pra ele que era melhor mesmo comprar uma pizza. Nós comemos e depois escolhemos um filme. Eu preferi rever “As vantagens de ser invisível” porque sei que gosto, mas me arrependi, porque revi há pouco tempo depois de ler o livro e nada mais tinha para ser descoberto ali.

Mas o Jonas ficou tocado pela história, o que me fez gostar um pouco mais dele, porque às vezes acho que ele é muito difícil de agradar… Mas ele ficou triste e começou a chorar. Eu perguntei se ele queria conversar e ele deu uma introdução que achei que ele ia terminar comigo. As vezes eu fico esperando esse momento. Como que isso fosse resolver alguma coisa. Como se todas as coisas ruins sobre mim, que vem a tona quando a gente briga fossem embora com este relacionamento. Mas eu tenho a impressão que não. Então vou tentando…então vou levando. E me admira muito que ele nunca pense em terminar.

No final do dia servi um copo do prosecco pra pomba gira e agradeci.

Claro que eu acordei as 5 da manhã pra lembrar que esqueci de pagar uma conta. Fiquei mais duas horas acordada depois de entrar no banco. No dia seguinte coloquei a música do filme pra ouvir enquanto limpava a casa. Nada como uma limpeza pra se sentir melhor.

Eu busquei na internet aniversário depressivo, e descobri que muitas pessoas não se sentem bem mesmo e eu tentei buscar no minha memória algum aniversário que eu não gostei de fazer, lembrei de uma crise quando fiz 26. Pq eu achei que era muito perto de trinta (rs).

O Flávio me mandou um mensagem e eu tenho pensado tanto nele esse dias. Ele me parabenizou pelos 33 anos e eu desejei que ele não tivesse feito isso…porque 33 é ainda mais que 32.

Também busquei como eliminar olhos inchados e choro e agora to aqui com uma bolsa congelada pressionando as olheiras pensando numa imagem que eu vi no pinterest:

às vezes a gente tem que ser como o glowstick: tem que se quebrar antes de brilhar muito.

Fazer aniversário com mercúrio retrógrado, lua cheia e eclipse tem dessas.

Queria poder falar pras meus amigos, minhas amigas, meus queridos: que vocês acordem  amanhã e façam o que tiverem vontade, mas aquela do topo TOPO da lista, como se fosse o último dia de suas vidas. Vocês tem o momento certo, para fazer a semeação certa, agora. Para plantar as coisas que em dois anos vocês estarão colhendo. Não se guardem, não se escondam de possíveis julgamentos, não deixem que o dinheiro seja uma questão. Esta é a hora de se libertar de quem vocês deveriam ser, para chegar mais perto do presente de se sentir autentico.

Eu acho que vou tomar um chá de boa noite que eu comprei sem querer semana passada (vivendo com a língua alemã), colocar um doc que o Jonas não quis ver ontem, e tentar dormir um pouco mais para ver se acordo parecendo três anos mais nova, e sem vontade de sair correndo disso tudo.

São 13:30, daqui a cinco minutos eu faço 32 anos e um dia, 33 anos vividos segundo meu ex. E eu continuo me sentindo uma criança magrela, que corre desajeitada com o dente da frente separado, sem idéia do que fazer daqui pra frente com a minha vida, agora que não me sinto mais infinita.

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